Nesta sexta-feira, 15 de agosto, marca exatamente duas décadas desde que uma canção tocou pela primeira vez nas rádios e se tornou a trilha sonora de uma geração de adolescentes: “Durch den Monsun”, o single de estreia da banda Tokio Hotel. Vinte anos depois, o grupo celebra a data com um show especial em Berlim, revisitando o fenômeno que os lançou para o estrelato e desafiou as convenções da época.
O início de um fenômeno
Em 2005, o videoclipe de “Durch den Monsun” mostrava um jovem Bill Kaulitz, então com 15 anos, cantando em meio à chuva e à neblina, acompanhado por uma banda cujo estilo parecia não se encaixar no cenário pop polido e inofensivo dos anos 2000. Para muitos jovens, a música se tornou um hino de identificação. Para outros, a banda era, acima de tudo, um incômodo. Naquela época, a cultura pop alemã tinha uma imagem de masculinidade bem definida: ou eram rapazes de boy band com uma imagem impecável, ou roqueiros com um visual mais rústico. O Tokio Hotel não se encaixava em nenhuma dessas categorias.
A aparência como provocação e progresso
O visual de Bill Kaulitz era uma provocação deliberada: cabelo espetado e com volume, silhueta magra, lápis preto forte nos olhos e roupas justas. Ao seu lado, o irmão gêmeo Tom Kaulitz personificava um desvio diferente, com calças largas, boné e um estilo inspirado no hip-hop. Juntos, eles questionavam, de duas maneiras completamente distintas, como um astro pop “masculino” deveria parecer. Em programas de TV e seções de comentários, Bill era frequentemente rotulado como “afeminado” ou “feminino demais” — uma reação defensiva a qualquer forma de ambiguidade em uma era onde os papéis de gênero eram muito mais rígidos.
Tokio Hotel: Pioneiros de uma estética mainstream
Vinte anos depois, esse mesmo visual faz parte da estética pop internacional. Músicos como Harry Styles ou a banda Måneskin posam com blusas de renda, e estrelas como Conan Gray e Kim Petras apresentam o gênero como algo flexível e artístico, sem que isso gere uma onda de críticas. Pelo contrário, eles são celebrados como ícones de uma geração que entende o gênero como algo fluido. O que era visto como perturbador em 2005, hoje chegou ao mainstream. O Tokio Hotel viveu essa estética antes mesmo que existisse um vocabulário popular para descrevê-la.
Entre a histeria e o ódio: a comunidade de fãs
Enquanto o visual da banda provocava, sua base de fãs se tornou o para-raios para o ressentimento social. As garotas jovens, que se entregavam sem reservas à paixão pelo Tokio Hotel, foram alvo de zombaria e rotuladas como histéricas ou vergonhosas. Esse padrão é antigo: já com os Beatles e o Take That, o escárnio era direcionado menos à música e mais ao entusiasmo feminino. Análises culturais chamam isso de “misoginia no universo dos fãs”: enquanto a paixão masculina por futebol ou rock é vista como autêntica, a admiração feminina é rapidamente descartada como “histeria”. Na realidade, esses adolescentes organizaram algo que hoje é comum: o fandom como um espaço seguro. A comunidade oferecia um refúgio para jovens queer e não-conformistas, muito antes de produtos de orgulho LGBTQIA+ ou das redes sociais multiplicarem essas possibilidades.
De Magdeburg para Hollywood: a celebração e a trajetória atual
Para comemorar os 20 anos de seu sucesso, o Tokio Hotel se apresenta hoje à noite no Parkbühne Wuhlheide, em Berlim. O organizador do evento, em tom de brincadeira, recomenda roupas impermeáveis e avisa que, ao celebrar “20 Anos de Durch den Monsun”, “sempre é possível se molhar”. Na época de seu lançamento, os quatro músicos da região de Magdeburg ainda eram estudantes; hoje, estão entre as bandas de maior sucesso da Alemanha. Os gêmeos Bill e Tom Kaulitz agora vivem nos Estados Unidos, onde apresentam um podcast de sucesso (“Kaulitz Hills – Senf aus Hollywood”) e estrelam uma série na Netflix (“Kaulitz & Kaulitz”), que aborda suas vidas. Tom Kaulitz é casado com a apresentadora Heidi Klum, solidificando a transição da banda de fenômeno adolescente alemão para figuras consolidadas na mídia internacional.
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