O 30º Festival Internacional de Cinema de Busan (BIFF) tem sido palco de fortes emoções, com duas obras da seção “Gala Presentation” gerando as reações mais entusiasmadas do público até agora. Os aplausos calorosos e os soluços discretos ouvidos na sessão de “Kokuho” (Tesouro Nacional), do diretor nipo-coreano Lee Sang-il, contrastaram com as gargalhadas contínuas que marcaram a exibição de “Good News”, do cineasta Byun Sung-hyun. Ambos os filmes, embora com propostas totalmente diferentes, demonstram a força de diretores com visões artísticas singulares.
A seção “Gala Presentation” do BIFF é conhecida por selecionar apenas quatro dos filmes mais aguardados e comentados do circuito mundial. Neste ano, além das produções sul-coreanas, a seleção inclui o vencedor da Palma de Ouro em Cannes, “Foi Apenas um Acidente”, do aclamado diretor Jafar Panahi, e o aguardado “Frankenstein”, do mestre mexicano Guillermo del Toro.
“Kokuho”: A Jornada de um Tesouro Nacional
“Kokuho” chega a Busan com um status impressionante: além de ter ultrapassado a marca de 10 milhões de espectadores no Japão, sendo aclamado pela crítica como “a essência do cinema de arte”, o filme foi escolhido como o representante oficial do Japão na disputa pelo Oscar de Melhor Filme Internacional na 98ª edição do prêmio. A indicação cria uma competição interessante, já que o representante da Coreia do Sul é “Não Tem Jeito”, do renomado Park Chan-wook.
Com uma duração impressionante de 175 minutos, o filme poderia intimidar, mas a narrativa é tão envolvente que as três horas passam num piscar de olhos. A trama acompanha a vida de Kikou (Ryo Yoshizawa), um garoto nascido em uma família da Yakuza que, após uma tragédia familiar, é acolhido como discípulo por um mestre do kabuki, Hanjiro (Ken Watanabe). A partir daí, o filme narra sua jornada árdua e obsessiva para se tornar um ator lendário, um verdadeiro “tesouro nacional” da arte japonesa.
O diretor Lee Sang-il demonstra uma coragem notável ao transportar o palco do kabuki diretamente para a tela, sem filtros. “Acredito que há uma beleza que só pode ser mostrada por alguém que busca a arte em seu nível mais elevado”, explicou o diretor. “Eu queria retratar os sacrifícios e as recompensas da vida de um artista e o dilema daqueles que carregam seu próprio destino.”
Talento Versus Linhagem: O Conflito Central
O grande trunfo de “Kokuho” é que não é preciso ter conhecimento prévio sobre o teatro kabuki para se conectar com a história. O filme transcende a arte e foca no drama humano, explorando a eterna rivalidade entre o talento nato e o privilégio da linhagem. Kikou é um gênio inegável, mas seu rival, Shunsuke, é o filho do mestre. No mundo rigidamente hierárquico e hereditário do kabuki, o sangue muitas vezes fala mais alto que a habilidade.
Essa tensão é o coração do filme. Kikou, mesmo sendo tecnicamente superior, luta contra um sistema onde Shunsuke sempre terá a vantagem por ter nascido em “berço de ouro”. Em uma cena emblemática, o mestre Hanjiro encoraja seu filho dizendo: “Você vai conseguir porque o sangue da nossa família corre em você. Esse sangue irá te proteger.” Em seguida, dirige-se a Kikou e diz: “Você ensaiou sem descanso. Seu corpo se lembra dos movimentos.” A diferença no tratamento é dolorosa e expõe a injustiça do sistema. A frustração de Kikou é tamanha que ele chega a confessar a Shunsuke: “Eu queria poder beber o seu sangue”.
A narrativa, contada de forma cronológica e acessível, acompanha a ascensão, a queda e a superação de Kikou. A beleza formal não vem de flashbacks complexos, mas da própria estética do kabuki, com suas performances que hipnotizam pela disciplina e pela tensão criada entre o palco e a plateia.
“Good News”: Comédia de Humor Negro com Estilo
Em um tom completamente diferente, “Good News” consolida o estilo marcante do diretor Byun Sung-hyun, conhecido por sua estética visual única e direção rítmica em filmes como “O Impiedoso” (2017), “Kingmaker” (2022) e “Kill Boksoon” (2023). Desta vez, ele aposta em uma comédia de humor negro para contar a história de um grupo que luta para sequestrar um avião de passageiros japonês rumo a Pyongyang nos anos 1970.
A montagem ágil é o grande charme do filme. Byun Sung-hyun ousa quebrar a tensão nos momentos de clímax e utiliza recursos como a quebra da quarta parede, com atores olhando diretamente para a câmera e narrando a ação. “Quando um ator olha para a lente, isso cria uma certa distância para o público”, comentou o diretor. “Minha intenção era convidar os espectadores a observarem essa confusão junto conosco.” Com humildade, ele acrescentou: “Sinto-me ao mesmo tempo honrado e um pouco intimidado por estar nesta seção do festival”.
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