O anime japonês, que há muito tempo domina o mercado de streaming, agora demonstra uma presença avassaladora também nos cinemas. O sucesso estrondoso do novo filme da franquia “Demon Slayer” é a prova definitiva de que a animação japonesa não é mais um nicho, e sim uma potência cultural e comercial que rivaliza com as maiores produções de Hollywood.
Um Fenômeno de Bilheteria
O filme “Demon Slayer – Kimetsu no Yaiba – O Filme: Arco do Castelo Infinito – Capítulo 1: O Retorno de Akaza” estreou na América do Norte no último fim de semana com uma arrecadação impressionante de US$ 70,6 milhões (aproximadamente R$ 350 milhões). Este número, digno de um blockbuster de Hollywood, estabeleceu um novo recorde de estreia para um filme de língua estrangeira na região, superando todas as expectativas.
Exibido em mais de 3.300 cinemas norte-americanos, o longa alcançou o topo do ranking de bilheterias globais. O sucesso foi tão grande que colocou a franquia em pé de igualdade com gigantes como “007” e “Velozes e Furiosos”, marcando um momento histórico para a indústria de animes e servindo como um modelo de sucesso sustentável. Especula-se que, caso o filme consiga um lançamento no massivo mercado chinês, sua receita global poderia ultrapassar a marca de US$ 1 bilhão.
Embora o sucesso na China não seja garantido para todas as produções — ainda que existam precedentes de grande êxito, como “THE FIRST SLAM DUNK” —, uma bilheteria robusta na China garantiria a “Demon Slayer” um lugar no top 10 anual global, superando até mesmo produções da Marvel ou da franquia “Missão: Impossível”. No Japão, o filme já caminha para se tornar a maior bilheteria da história, provando que o sucesso do primeiro longa, lançado durante a pandemia em 2020, não foi um caso isolado, mas sim o estabelecimento de um “novo normal”.
De Subcultura a Símbolo “Cool”
O que explica essa mudança drástica? A ascensão do anime de um nicho para o mainstream foi um processo gradual que, de repente, acelerou. A popularidade internacional cresceu de forma orgânica, semelhante ao punk rock ou ao hip-hop. Para muitos estrangeiros de gerações passadas, o contato com animes acontecia de forma quase clandestina: através de fitas VHS piratas ou em canais de nicho exibidos de madrugada. Com a internet, fãs baixavam ilegalmente séries ainda não lançadas oficialmente no ocidente e criavam suas próprias legendas, espalhando a palavra.
A grande virada veio com a Geração Z. O que antes era considerado “território otaku” transformou-se em um símbolo de status “cool”, abraçado por atletas de elite, como o jogador de futebol Ibrahima Konaté, e celebridades como a cantora Billie Eilish e o ator Michael B. Jordan. Segundo a Netflix, metade de seus usuários já assiste a animes, e o tempo de visualização triplicou nos últimos cinco anos. As projeções mais otimistas indicam que o mercado global de animes pode ultrapassar os US$ 80 bilhões até 2033.
Os Desafios da Indústria e um Novo Modelo de Negócios
Ironicamente, o Japão parece ser o último a se dar conta de seu próprio sucesso. A indústria ainda enfrenta problemas crônicos, como os salários de animadores próximos ao nível de subsistência, estúdios de produção em dificuldades financeiras e a falta de apoio governamental. A questão que fica é: para onde estão fluindo os lucros desse crescimento global? Empresas de outros países, como a chinesa Pop Mart, conseguem gerar fortunas com produtos licenciados, enquanto as empresas japonesas ainda parecem presas a modelos de gerenciamento de direitos autorais ultrapassados.
Nesse cenário, o modelo de produção de “Demon Slayer” pode ser o caminho a seguir. O Sony Group, em colaboração com a editora Shueisha (da revista “Weekly Shonen Jump”), gerencia a maior parte da franquia através de suas subsidiárias, como a produtora Aniplex e o serviço de streaming especializado Crunchyroll. Crucialmente, o estúdio de animação ufotable, responsável pela produção visual impecável da série, não é um mero prestador de serviço. Ele participa como membro do comitê de produção, investindo no projeto e, consequentemente, compartilhando dos lucros.
Essa participação na tomada de decisões é o que permite um sucesso contínuo e de alta qualidade. Para a indústria, esse tipo de colaboração é vital. Como “Demon Slayer” demonstra, o potencial do anime é infinito, mas não se pode depender apenas do carisma e da determinação de personagens como Tanjiro Kamado.
O Universo de “Demon Slayer” e a Batalha Final
Baseado no mangá de mesmo nome, que já ultrapassou 220 milhões de cópias vendidas mundialmente, “Demon Slayer” conta a história de Tanjiro, um jovem que se torna um caçador de demônios após sua família ser massacrada e sua irmã, Nezuko, ser transformada em um demônio. A jornada de Tanjiro para vingar sua família e encontrar uma cura para Nezuko conquistou uma legião de fãs.
Após o sucesso estrondoso da primeira temporada e do filme “Arco do Trem Infinito”, a saga continuou com os arcos “Distrito do Entretenimento”, “Vila dos Ferreiros” e o mais recente “Treinamento dos Hashira”. Agora, o “Arco do Castelo Infinito” será adaptado em uma trilogia de filmes, retratando a batalha final dos caçadores de demônios contra seu inimigo supremo, Muzan Kibutsuji, e seus demônios de elite. Para celebrar o lançamento, o estúdio ufotable divulgou em suas redes sociais uma nova ilustração de Nezuko Kamado em sua forma demoníaca avançada, vista no arco do “Distrito do Entretenimento”, gerando grande repercussão entre os fãs.
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